segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lugar da Promessa


A CONSTRUÇÕES NO LUGAR DA PROMESSA.Depois que airmã Cacilda doou a Área de terra. Fomos fazer logo a limpeza da área,estavam presentes:Alicio Lobo Michiles,Vicente Lobo Michiles,Martísio Rodrigues Filho e Diácono missionário Edivaldo dos Anjos Farias.Roçamos o lugar onde ia ser construída a minha casa.Fomos tirar madeira na capoeira e só encontramos uma arvore chamada de “canela de velha”por sinal muito boa madeira pra terra,tiramos os esteios e caibros e toda a armação.Armamos e agora precisávamos de palha e não pouca e nessa região não tem palha de babaçu só tem de caranã e tem que ser tecida amarrando os talos numa vara de um certo comprimento.Como eu já tinha vivido por uns tempos nessa região já tinha aprendido.E fomos pro caranazal tirar a cobertura tiramos palhas das oito da manhã até as duas da tarde e fomos colocar num recipiente construído por quem tira a palha chamado (Panaku ou kofu).Levamos e começamos a tecer talo por talo até terminar.Cobrimos a casa que media quatro metros de largura por oito de comprimento,já pronta a coberta tiramos mais palha de inajá pra por nas paredes,e consegui aprontar um elhi das paredes,e nos passamos naquela tarde.Cerquei direitinho do lado que vinha a chuva.Atamos as redes das crianças nos cantos da casa pra melhor segurança.

Chamado missionário

Nessa época e na minha nova morada,vieram morar comigo muitas pessoas:Genésio,dona Cacilda,Alicio,Rosinha,Agenor e esposa,Mara,Hirleia,Jaime,Jonilso,Jackson Raimundo Nonato,Nicanor,e outros que não me lembro no momento,mas foram lindos momentos,que passamos juntos.Praticamente quase todos lá do rio preto,e eles me diziam que quando eu me formasse fosse trabalhar lá com eles .Também tinha a minha família lá no Arari minha terra natal.Eu só dizia que fosse feito a vontade de Deus.E se foram passando os dias,e eu tinha entrado em 89 no seminário,saia todas as seis horas da manhã do bairro da Paz e caminhávamos por dentro do Alvorada e íamos varar na  estrada da Ponta Negra,e fizemos esta rota por quase três anos e nunca ninguém teve pena de nós.E quando a minha filha de nº 4 nasceu nós começamos  a fazer planejamento familiar,e comecei  a orar pedindo de Deus um filho homem pois já tinha quatro lindas meninas.E passou-se os dias me formei em 1992,aos meados de maio.E já vinha sendo cobrado por Deus para escolher o meu campo dado pelo Senhor.Entre Arari e Urupadí,fiquei com Urupadí.Fui com o meu pastor na época era o Edinaldo de Medeiros.O pastor Cláudio Otavio o nosso primeiro Missionário no Estado do Amazonas.

O ENVIADO AO INTERIOR.

Mas,graças a Deus o Pastor Edinaldo entendeu o meu chamado e me enviou.Ficou certo que no mês de setembro viajaria com toda a minha casa,ao interior de Maués uma das muitas cidade do interior do Amazonas.Eu me lembro que não temi nem por um momento de Deixar:A boa escola das minhas filhas,meus amigos,minha família,meu trabalho de pedreiro que por sinal ganhava muito bem,minha casa boa de alvenaria com água,luz e um bonito quintal.Tudo isto deixei agora por uma causa divina.Antes eu fazia isto por ansiedade de minha alma,nunca amei as coisas deste mundo,hoje muito mais,eu só cuido delas para Deus,pois sou o seu mordomo.

O MOMENTO DE DEIXAR TUDO.

Alugaram um caminhão e que foi cheio das minhas coisas.Coloquei as minhas filhas dentro e descemos para um lugar que nós não tínhamos nada.Tudo o que nós tínhamos estava ficando.A,a minha filha mais velha não pude ir por causa de seus estudos.Estava ficando um pedaço de mim pra trás,mas,eu não desisti,fiz da minha face,face de seixo,pra não chorar.Saímos era dia 09 de setembro de 1992.

A CAMINHO DA ESPERANÇA.

Chegando em Maués dia 10 de setembro de 92,com todo aquela mudança sem ter onde colocar.Fui em busca de um barco que coubesse tudo aquilo,encontrei um barco chamado de Comandante Leal,dormimos ali naquela noite e saímos a tarde do outro dia.As minhas três filhas alegres.

O MOMENTO DA CHEGADA AO ALÉM.

Fomos na direção da casa de um irmão Sateré e sua mãe Cacilda Michiles.Chegamos naquele porto era de tarde,coloquei toda a minha mudança na praia e o irmão Alicio já estava ali,e disse a ele que eu ia morar em sua casa,e ele ficou muito alegre.Mas,a casa de era muito pequena pois não tinha onde colocar as minhas coisas,foi preciso nós fazermos um jirau de paus suspenso e ai deu.Onde nós dormíamos não tinha paredes,quando chovia tínhamos que tirar as nossas redes.pra não molhar.

O LUGAR DA PROMESSA.

Fincamos nossa bandeira naquele lugar,ali seria o nosso quartel de linha de frente,e como foi!Meu objetivo era trabalhar já em uma comunidade já formada, não ter que forma novas comunidades.Aqui nas áreas ribeirinhas temos muitas comunidade com dez famílias,quinze famílias então é mais fácil para o governo Federal,Estadual e Municipal ajudar desta
forma o caboclo.E me dirige a uma Co
munidade chamada Aparecida do Pedreiro;falei diretamente com o presidente(o maioral)Que o meu objetivo era trabalhar na pregação do Evangelho,sendo que o evangelho ia atrair muitos outros benefícios para a comunidade.E ele me falará que  ia me dá em outra hora a resposta, depois de reunir todos os comunitário.E assim como acertamos,em dias depois ele me trouxe a resposta,que não podiam me aceitar na comunidade  deles porque eu não era da mesma religião deles,e eu não pode fazer nada;mas,também não bati o pó da minha sandália.Voltei ao quartel,e no dia seguinte fui a outra comunidade,mais próxima do nosso quartel,chamada:São José do Pedreiro.Conversei com o Presidente expliquei os meus objetivos trabalhando com eles,e ele me respondeu a mesma coisa que:Que ele ia reunir os Comunitários e que depois ele me daria a resposta.Com uns dias depois ele me deu a resposta.Que não dava porque eu era crente e eles são Católicos.E eu voltei pro meu quartel,em conversa com o irmão Alicio e a irmã Cacilda sobre o assunto das duas comunidades que fecharam as suas portas para mim.Ela me disse que me daria uma área de terra  de uma hectaria para fazer a igreja.Pois a irmã Cacilda já era uma Sateré batizada na igreja batista ela com a sua nora Laurieta,o irmão Alicio eram também batizado na Metodista Wesleyana lá em Manaus,na época que eu estava fazendo o Seminário.E quando a irmã Cacilda falou aquilo, fiquei muito feliz,pois sabia que Deus queria começar naquele lugar da estaca zero.Como eu fazia culto lá no quartel,já tinha se achegado uma família de Saterés,e já somávamos oito pessoas.

Conversão ou milagre

A PALAVRA DE DEUS NÃO VOLTA VAZIA.

Os irmãos da Assembléia de Deus faziam culto justamente enfrente da minha casa.Na época eu já estava bem melhor financeira tinha comprado uma tv colorida de 20’’e nas horas dos cultos deles eu aumentava o volume da minha televisão bem alto,mas,mesmo assim passava a palavra.A minha filha Djeirla colocava as mãos no ouvido e dizia:Vai espocar o meu ouvrido!Mas,mesmo assim eu ainda estava apegado ao Catolicismo Romano,passei a ser catequista de um Centro Social do Alvorada I,ali eu fazia as minhas rezas e depois me arrumaram uma vaga pra mim lecionar para adultos,me ajudavam com ranchos bem gordos todos os meses.Foi o tempo eu me convidaram pra participar de um grupo fechado da Igreja Católica chamado de “Catecumenato”e,passamos uns dois dias fazendo palestras,e finalmente agora um catecúmeno.Foi lá que conheci o Edinaldo e sua esposa Nicolassa e outras pessoas.Eu já tinha conseguido uma bíblia Ave Maria e lia muito aquela bíblia,mas,agora era diferente fazíamos estudos em grupos familiares e na igreja,agente tomava a Ceia do Senhor com o Pão e o Vinho junto,coisas que os padres não fazem  na igreja aberta.E muitas coisas me abriu os olhos.Ganhei uma bíblia Jerusalém,muito boa ,ai que eu lia mais a bíblia e fui me revoltando com as mentiras que tem dentro da Igreja Católicas,eu e o Edinaldo na época contendia com os padres,com perguntas que as vezes eles não sabiam responder.Já conhecendo a verdade queria que a Igreja Católica mudasse o seu rumo pra dentro da Bíblia,mas,tudo eram vão.Enquanto a minha história avançava,o meu lar era um lar de Abraão,muitas pessoas do interior que nunca tinham oportunidades de vir a cidade grande, estavam tendo a sua.Passaram pra morar conosco:Alaci e sua família,Geraldo Menezes,Sara Menezes,Gracieme Menezes,Paulo Menezes,Heraldo Menezes e outros que não me lembro mais.Hoje essas pessoas tal vez nem lembram mais de mim e nem sabem o valor que eu tive naqueles dias para eles,hoje estão todos bens,graças a Deus.Eu me lembro que numa noite num culto o irmão Edinaldo se levantou e disse que tinha um amigo que ia fazer um estudo Bíblico na casa dele e convidou todos os irmãos Católicos que quisesse ir,naquele dia eu não fui,mas,no próximo eu fui.Chegando lá meio cismado com uma camisa que tinha no peito os seguintes dizeres:”Não insista já sou Evangelista”.E chegou um senhor e uma senhora tudo bem arrumada,começou o estudo e foi dentro das minhas necessidades e minhas exigências e gostei e continuei,depois soube que ele era um pastor,mas eu só queria aquele estudo e nada mais,e fui,e passou-se e eu gostando.Ai que eu fiquei mais exigente na igreja em minhas pregações.Me chamavam de crente,de pastor.Aí nasceu  a minha 4ª filha pus o nome dela de Djeirliane,e essa foi batizada dentro de um camburão de madrugada pelo padre o Edinaldo e a Nicolassa serviram de padrinhos.E eu orava assim nas ruas:O Senhor me mostra um lugar onde as pessoas te busquem de verdade em Espírito.Porque lá onde eu estava,agente terminava de reza,tomar a Ceia do Senhor e saindo ia se prostituir,fumando,
Bebendo,e outros pecados.Uma noite de estudo,perguntei daquele pregador onde era a Igreja dele?E prontamente ele me informou e disse que eu era muito bem recebido se eu fosse lá


A MINHA CONVERSÃO.

 E pois não é que eu fui lá na igreja dele no dia 6 de dezembro de 1987.Foram comigo as minhas filhas:Djeime e Djeirla, lá na rua Itacoatiara numa garagem da casa da irmã Maria das Virgens.Fiquei enfrente a casa,ou a igreja parado com as pernas tremendo, e Djeirla  disse vamos entrar papai.A,vamos,entrei,e parecia que todo mundo estava olhando pra mim,o pastor ainda veio e disse: O seu Edivaldo sente-se aqui na frente,e o senhor vai tocar pra nós nessa noite,e já me deram o violão.E me lembro que o primeiro hino que toquei numa igreja Evangélica foi este:O que saudosa lembrança tenho de ti o Sião terra que eu tanto amo...E naquela noite aceitei Jesus como o meu Salvador.Naquela noite sentiam falta de mim na minha Igreja Católica,e contei pra algumas pessoas que eu ia sair da igreja,e marcamos a data da nossa saída.Nossa. porque o Edinaldo e a sua esposa estavam também saindo.Quando eu me converti eles já tinha se convertido antes de mim.Quando anunciamos a nossa saída o mundo veio contra nós,com choro,cotoveladas,olhares de desprezo e tudo mais,mas,eu firmei com o meu pacto com Deus,nada mudaria a minha vontade. Nem ranchos que eu ganhava, nem mesas fartas que nos davam e nem os amigos,pois eu tinha encontrado algo que a muito tempo procurava em oração.Agora como crente,a minha esposa meio sem saber o que tinha acontecido em minha vida,eu ia com as minhas filhas pra igreja sempre,sempre.Os meus visinhos se escondiam de mim,ficaram aborrecidos comigo.Fizeram uma festa próximo de minha casa e acharam uma foto minha numa bíblia Católica que tinha dado para uma pessoa,e aquela foto botaram chifres e diziam que eu era o falso profeta.Tinha amigos do cigarro,do vinho do violão,todos se afastaram de mim.Mas,agora comecei a evangelizar os que estavam ao meu lado.Ganhei minha esposa,meu irmão, minha mãe,meu pai e assim foi se cumprindo a promessa de Deus em minha família.(crer no Senhor Jesus e á salvo tu e a tua casa.At.16:31).

Pés cravados de espinhos.




Outro dia também não tínhamos nada.Peguei a minha espingarda e sai pra matar algum juruti para comer.E deixa estar;que eu tinha um cachorro que se chamava de Petrobras.Eu sai escondido do Petrobras,e lá na mata e vi uma juruti sentar debaixo de uma árvore,e fui abaixado,ajeitando bem,pra não errar.E dirrepente o Petrobras saiu correndo em direção que estava a minha caça.Me deu uma grande raiva,mirei em direção ao Petrobras mas,não deu coragem de matá-lo.Eu pensei!Mas,vou dar um pizão nele.Chamei-o pra bem perto de mim e dei o tal pizão,que na hora saiu do meu pé a sandália e meu pé foi ao encontro de um braço de tucumã,errando assim o cachorro,mas,não errei os duzentos espinhos no meu pé.Fiz a espingarda de muleta e gritando.Gracielle!Gracielle.Ela veio perguntando:O que é!Olha no meu pe!Ela olho e ficou chocada. Nem comida,mas o sabor da comida pra mim era dor.Minha esposa passou a tarde tirando espinhos,o meus pés ficaram cheios de buracos de golpes de facas.E as almas se achegando cada vez mais.Agora já não era mais uma congregação e sim uma Igreja. 

Saúde zero

SERVIÇOS DE SAÚDE ZERO

Eu me lembro,que quando agente adoecia não tínhamos posto médico,agente de saúde,só em Itacoatiara que tinha recursos e era muito ruim adoecer.Em 1970,deu uma grande epidemia de sarampo muito grande em todo o Arari,em casa começou cair as minhas irmãs e sobrinhas e meu irmãos João Carlos.Fiquei muito magro,minhas irmãs também.Foi se levantando de um por um com sabugueiro,mas,a minha sobrinha piorava a tal ponto que ela veio a falecer.A minha irmã RAIMUNDA,muito sentida com a morte de sua filha,ficou também bem doente (Além do sarampo que a consumia a sua saúde,agora a perda de sua segunda filha a fragilizou a inda mais.Um dia ela saiu do quarto,sentiu fome.Eu,e o meu irmão fomos pescar, quando saímos ela ficou sendo catada pela minha mãe bem na porta de nossa casa.Nós atravessamos o rio para pescar,e de repente, ouvimos grito de socorro,e logo saímos remando com muita pressa,subimos e a minha irmã estava muito agoniada com falta de ar,ela falou pro meu irmão:Mano, me sacode,ele sacudiu,sacudiu,e sacudiu pra ver se ela encontrava ar,mas cada vês mais sem ar,então ela disse já sem ar, me bota na rede e colocou-a na rede,agonizando firmando os olhos pra nós,como dizendo: Vocês não puderam me salvar!Foi uma coisa tão ruim pra mim,como pra toda a minha família,em 1970 eu estava com 11 anos quando aconteceram estas coisas.Ficou um  menino pra nós criarmos como  nosso filho.
Passou a epidemia,tocamos nossa vida, já tínhamos 14 cabeças de gado,sete hectarias de campo e roças.Lembro-me que sempre vinha o barco da sucam de 06 em 06 meses para borrifar as casas do carapanã da malaria e trazer vacina a todos os ribeirinhos,e eu já sabendo disso,ao ouvir o barulho do barco logo corria pro mato e me escondia onde ninguém podia me achar,pois tinha muito medo de tomar injeções,e só voltava do mato quando ouvia o barulho do barco saindo do porto de minha casa

A LUZ DUROU POUCO.


Sempre eu faço alguns documentários arespeito do Urupadi,e num destes documentários um irmão assitiu.E via a realização dos cultos sem luz eletrica,e Deus encomodou pra que ele fizesse alguma coisa. E ele foi no centro de Manaus e comprou sete motores elétricos da marca Trivolt,e quando fui no Parque 10 ele me falou que já tinha comprado que estava a minha disposição.Na proxima viagem que fui daquele ano de 2009 espalhei motores em todas as nossas igrejas,que ficaram iluminadas.
DUROU POUCO!
Infelimente não durou muito os motores,a sua marca era a das mais fracas que existiam.Não culpo o irmão que doou.Mas,o fabricante que não caprichou em seus produtos.Hoje não temos nenhum dos sete funcionando.Estão todos quebrados sem servir pra nada.E algumas igrejas continuam sem luz eletrica.Fazemos na base da lamparina,que não é legal.Estamos aguardando o projeto do Governo Federal,(Luz Para Todos),que já está em algumas comunidades  próximas.Estamos orando ao Senhor que nos ajude a conseguirmos não só luz mais outras doações de terceiros,que tem boa vontade de ajudar. 

Perdemos um grande pastor em Urupadi


PEDIDO DE AFASTAMENTO DA OBRA E CHEGADA DE UM NOVO MISSIONÁRIO

No final de 1998 como já tinha pedido que viesse outro obreiro pra ficar no meu lugar,o Concilio enviou um presbítero por nome Isaias com toda a sua casa.Um homem muito trabalhador em agricultora.Em janeiro de 1999 ele chegou e com ele passei 3 dias mostrando os nossos trabalhos,e fui a Manaus me congregar na igreja da Paz com o pastor Manoel de Oliveira.Vivia de trabalho de padaria em minha casa,eu e minha esposa fazíamos pães pelas madrugada pra tirar o sustento de minha família.

MORTE DO PRESBITERO ISAIAS

Em um certo dia recebi um telefonema me informando que tinha caído uma árvore encima do pb.Isaías,trabalhando em desmatamento em beneficio da igreja. Foi chamado a ir até Maués pro velório do presbítero que uma arvore tinha caído em cima dele cortando de motor serra no roçado de um irmão. Um irmão da igreja nos cedeu um avião a nos levar até ali, plantamos o irmão, o pastor Antonio voltou no mesmo avião e eu fui até o Urupadí.O presbítero permaneceu somente sete meses no Urupadí.Chegando ali procurei me informa melhor do fato.Então foi assim:Entre eles em reunião se combinaram a fazer multirão pra fazer roçado para todos os irmãos da igreja.Um dia iam no roçado de um, no outro dia  iam no roçado do outro.E já estava no final dos multirões.Estava o pastor Isaias,seu filho,Vicente,Arteme e outros.Eles viram como aconteceu.Estavam amolando suas ferramentas e o pastor estava cortando uma ilha de mato que não tinha caída.Neste momento o vento empurrou umas árvores que ele mesmo tinha cortado pra depois com essas que ele estava decepando levar essas que caiu sobre ele.Quando os irmãos viram que a árvore ia na direção dele,eles gritaram avisando que a árvores estava caindo.Só que ele não ouvia a voz dos irmãos porque  estava com o motor serra lihgado.Quando ele percebeu já estava muito próximo dele.Ele saiu correndo de costas e a ávore cobriu.O irmãos sairam correndo e chamando pelo nome dele,que não respondia.Foram cortando galhos e mais galhos até chegar nele,que ainda estava respirando,e deu um gloria a Deus e respirou na presença dos irmãos.Ai que os irmãos foram ver que ele tinha caído na ponta de uma vara bico de gaita.Suas pernas estavam quebradas em vários pedaços.E com isso a viúva teve que voltar pra sua terra Rondonia.Mais o pastor esta plantado em Maués.Aí tive que voltar novamente à Urupadí.

A Ressurreição do Atalaia de Deus




Todos os meses vou a Manaus e volto a urupadi,sempre vou à Manaus nos dias 1 e 2 de cada mês e volto a campo missionário aos dias 15 de cada mês. Isso tudo pelo fato de ter minha familia em Manaus,estudando fazendo faculdade.E todos os meses muito se tem a fazer ou organizar.Por exemplo muitas reuniões com lideres de Urupadi,pois meus trabalho é somente coordenar dois distritos no muinicipio de Maués,em longa extenção.Faço todas estas visitas navegando nos grandes rios do Amazonas.E o meu barco oficial estava sendo restaurado à  mais de três anos puxado em terra esperando um mantenedor que nos ajudasse no pagamento de um orçamento de 4,000 reais,somente para a construção do casco e não das paredes, estrados e pinturas.E sempre tive que fazer as visitas num motor de popa de 15hp.Sendo que o mesmo veio cair no pre ai tive que fazer de motor a rabeta e pouca velocidade.Mas,não pude parar.Algumas comunidades me cobravam mais presença,sendo que olhando as distâncias de um lugar para outro seria quase impossivel visitar todos  os meses.Mas,quando não podia ir com os meus custos ia de passagens com terceiros,viajando 7 horas no sol ou na chuva sem cobertura.Mas, no dia 24 de abril de 2011,tomei atitude de convidar aos irmãos que colocassémos o barco na água,pois o carpinteiro naval já tinha entregado, mais estava muito longe do rio.Mas, neste dia vi que já estava bem próximo do rio, e com um grupo de irmãos fomos empurrando da proa,da popa,zigizagiando até cais na água.O motor estava desmontado e comecei a monta-ló.Quase não funcionou,e só funcionou  com mata bicho.E no dia 29 de abril,saí com um grupo de seminarista já nele pra evangelizarmos dentro da área indígena.Aevangelização foi uma benção.Agora só me falta terminar as paredes,estrados,pinturas e restauração do motor.Temos duas fotos;uma sendo restaurado,outra com casco restaurado.

O constragimento Missionário.


A PERDA POR CONSTRANGIMENTO.

Dia 13 de março de 2011 fui a igreja Metodista Wesleyana do Parque 10,levei   2.20 reais centavos.Mas,como consegui uma carona, não gastei as passagens de ônibus.O culto foi uma benção de pregação.Naquela noite o pastor que pregava era o pastor Jeorge, deficiente visual,e foi uma grande pregação.Antes da pregação foi tirada a oferta do dia das missões,como eu sou missionário  fiquei constrangido em não dar nenhuma oferta.Deitei as minhas duas passagem no gasofilácio;pensei! No final do culto alguns dos irmãos vão me oferecer uma carona  e vai ser resolvido o meu problema.Terminou o culto,todo mundo indo embora e eu esperando a minha carona que desta vez falhou.Todo mundo preocupado com seus afazeres,e chegar mais sedo em suas casas.Alguns irmãos tinham ficado muito tocado com o meu testemunho algumas horas antes do final.A tal ponto que me convence dique a minha carona estava certa.E quando vi que ia ficar só enfrente da igreja, me despedi de uma irmã que me deu atenção,ainda disse a ela que tinha que ir por que ia a pé pra minha casa.Saí com passos lentos ,pois sabia que tinha muito chão pela frente. Pois tinha que caminhar aproximadamente 5 kilometros pra chegar em casa.No caminha falava com Deus-Senhor eu sei que tu vê todas as coisas,e podes mandar no coração do homem se tu quiseres.Tu podes pedir pra alguém me da uma carona aqui nesta via.Saí da calçada e passei a andar na sarjeta  pra chamar a atenção de quem passava e via que estava precisando de uma carona.Todos os carros que passavam eu dava uma olhada pra trás e seguia o carro com o olhar enquanto passava por mim.Mas,em toda a extensão  desta jornada não apareceu a minha carona.E tive que me consolar com o pensamento que tal vez Deus estava trabalhando no meu ego.Por eu não pedir de alguém uma passagem de ônibus.Mas,me vinha na minha imaginação que era muito feio esta pedindo dos irmãos.Pois,Deus era a pessoa certa em resolver o meu problema.E, vim conversando com Deus até no bairro da paz em voz alta.Quando ia entrando na Henoc Reis Uma buzinada próximo de mim.eu me assustei quase gritando,e vi que era a irmã Berenice com o pastor João Tavares.Já não estava esperando nenhuma carona que nem me preocupava com carro de ninguém.Mas,ele estava saindo do bairro para sua casa e eu chegando.Cheguei em casa e foi narra o que aconteceu comigo por me constranger na ora da oferta.Nunca dê nada pra Deus por constrangimento que Deus não vai te ouvir.Devemos dar sem qualquer constrangimento.


PASTOR:EDIVALDO DOS ANJOS FARIAS

sábado, 14 de maio de 2011

I CONGRESSO DE JOVENS EM URUPADÍ

Tivemos o privilegio de fazermos este evento na direção  do Espírito Santos e nosso líder de departamento de jovens Distrital com o apoio do pastor coordenador dos Distritos. Cada jovens ficou de ajudar com 10,00 reais para ajudar na compra de alimentos e outros.Fomos pra Maués dia 24 de março com a intenção de comprar as despesas da festa e conseguir diesel com alguém  pudesse nos ajudar.E conseguimos com o meu sobrinho Ariosto (Ary),30 litros.Já voltamos trazendo o pastor Osimiro que veio fazer uma reunião com todos os seminaristas.Foi feito sua reunião quase de noite do dia 26, ao  encerrar sua reunião, ele retornou pra Maués com o Judá filho do pastor  Neilton.Como chegamos todos quase de noite não deu tempo pra fazermos a janta,e o culto começou.Não esperávamos tanta gente como deu sábado a noite,a igreja lotou,todos os bancos cheios e muita gente ficou por fora por não ter espaço dentro.A janta veio sair era meia noite.Estiveram presentes:O pastor Onaldo do paricá e sua igreja em peso.O pastor Michiles e muitos de sua igreja estiveram presentes. O pastor Manoel de Oliveira e sua esposa lá de Manaus da nossa igreja de NOVA Cidade.O irmão Edmilson e sua equipe estiveram.E muitos outros irmãos de vários lugares.Mas,o que me impressionou é que o povo de São José estiveram marcando presença no culto de domingo a noite.Pensei que domingo não ia dar quase ninguém,mais me enganei.Lotou de novo.Houve várias reconciliação nesta noite.E depois da palavra o louvor continuou até pelas três da manhã.As despesas em alimentação e combustível deu certinho para os dias da festa.Glória a Deus!
Tivemos nesta festa três reuniões:
01-Com o pastor Osimiro Leite
a)      Orientação a conseguirem a passagem de ida e volta
b)      Orientação a levarem farinha
c)      Orientação que fechou vagas para fazer o seminário.
02-Pastor Edivaldo com todos os líderes de Urupadí
a)      Avaliação do pastor Edivaldo pelos obreiros
b)      Avaliação dos coordenadores
c)      Orientação aos tesoureiros
d)      Orientações aos secretários
e)      Orientações aos seminaristas
03-com o pastor Edivaldo e os presbíteros
a)      Discutimos a ida do Dc.Cledinildo a Jerusalém.
b)      A ida do presbítero Jorge a Boas Novas depois que conversar com PB,Ezequiel em abril.
26 e 27 de março  2011. I C.J.W.U

Conheça algumas coisa dos índios Saterés Mawe


Introdução
Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé domesticaram a trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento da planta, possibilitando que hoje o guaraná seja conhecido e consumido no mundo inteiro.

Preparo e consumo do guaraná
O çapó, guaraná em bastão ralado na água, é a bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O preparo e consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual. A natureza do ritual de consumo do guaraná é, porém, diversa da de um ritual formal, como são a da Festa da Tocandira ou a da leitura do Porantim.

Uma sessão de çapó foi descrita por Anthony Henman: "Essas práticas são essencialmente as mesmas em todas as circunstâncias, tanto se o çapó for preparado para o círculo familiar mais íntimo, ou para um encontro de todos os homens adultos durante uma festa ou reunião política. Cabe à mulher do anfitrião ralar o guaraná, operação feita com uma língua de pirarucu ou uma pedra lisa e quadrada de basalto. Uma cuia aberta da espécie Crescentia cujete é colocada em cima de um suporte chamado patauí e enchida de água até um quarto do seu volume total. A ação de 'ralar' o guaraná molhado não busca a transformação do bastão em pó, como ocorre com o guaraná seco.

Antes, trabalha-se o guaraná para que se forme uma baba, uma viscosidade que adere ao ralo e ao pedaço do bastão em uso, sendo dissolvida n'água mediante a periódica submersão dos dedos da raladora.

Depois de preparado, o çapó é de novo diluído com água guardada ao lado da ''dona'' do guaraná em uma cabaça da espécie Lagenaria siceraria. A cuia, já a essas alturas cheia até um pouco mais da metade de çapó, e entregue pela mulher ao seu marido, que toma apenas um pequeno gole antes de passá-la aos outros presente, normalmente prestigiando os mais velhos ou alguns visitantes importantes, se os houver. Daí em diante, a cuia passa de mão em mão observando a proximidade física dos participantes, e não um rígido esquema de hierarquia, sendo acompanhado durante as sessões noturnas por um grande cigarro de tabaco enrolado numa casca de árvore. O nome tauarí indica tanto o cigarro feito, como a casca e a própria árvore (Couratari tauary).

Nem sempre a cuia e o tauarí fazem uma volta circular, sendo mais comum que passem em uma linha reta de um participante ao próximo, voltando pela mesma linha até chegar de novo nas mãos do dono. Quando são muitas as pessoas presentes, observa-se a formação de duas ou mais linhas deste tipo, já que uma só cuia raramente é tomada por mais de oito ou dez pessoas. O participante que não tiver muita vontade de tomar guaraná não irá rechaçar a oferta da cuia, mas manterá as formalidades, bebendo um golinho mínimo para não ofender o anfitrião. Outro detalhe importante é que ninguém acaba a bebida que tiver na cuia, e mesmo se receber uma quantidade mínima, cuidará de deixar sempre um resquício para devolver ao dono. Só este é que tem o direito de encerrar formalmente a sessão de çapó; o que ele pode fazer pessoalmente, ou passando o restinho para um membro de sua família, acompanhado pela frase wai'pó (''olha o rabo'').

Durante o intervalo em que a cuia circula entre as pessoas presentes, a mulher do anfitrião continuará esfregando o pedaço de guaraná contra o ralo, juntando uma baba que será prontamente dissolvida n'água assim que a cuia voltar às suas mãos.'' (1983:26-27) Cabe observar que cada sessão da çapó tem várias rodadas da bebida, ou seja, a mulher do dono da casa (ou sua filha, ou sua neta) irá preparar várias cuias de çapó conforme a disposição dos visitantes e familiares para tomar çapó e conversar.

O çapó é a bebida que os Sateré-Mawé utilizam durante seus resguardos. As mulheres durante a menstruação, gravidez, pós-parto e luto e os homens na Festa da Tocandeira, no luto e quando acompanham suas mulheres durante o resguardo do pós-parto.

Pode-se dizer que é durante o fábrico, termo regional também utilizado pelos Sateré-Mawé para indicar as várias etapas do beneficiamento do guaraná, que a vida social se intensifica. A partir do que observamos, o fábrico potencializa ao máximo a maneira de ser desta sociedade, trazendo para a vida social cotidiana toda uma gama de fenômenos que se encontram ocultos ou obscuros em outras épocas do ano. É um período que se renova a cada ano com a chegada da colheita do guaraná, permitindo aos Sateré-Mawé comungarem com sua gênese mítica, revigorando-se etnicamente.

O ritual da Tocandira coincide com a época do fábrico e dura aproximadamente 20 dias. Os índios referem-se a este ritual como ''meter a mão na luva'', também conhecido pelos regionais como ''Festa da Tocandira''. Trata-se de um rito de passagem - onde os meninos tornam-se homens - de extraordinária importância para os Sateré-Mawé, com cantos de exaltação lírica para o trabalho e o amor, e cantos épicos ligados às guerras. As luvas utilizadas durante este ritual são tecidas em palha pintada com jenipapo, e adornadas com penas de arara e gavião; nelas, o iniciado enfia a mão para ser ferroado por dezenas de formigas tocandiras (Paraponera clavata).

Narrativa Sateré-Mawé
As narrativas abaixo foram recolhidas e editadas por Alba Lucy Giraldo Figueroa (antropóloga, Fundação Nacional de Saúde - Funasa). Fazem parte de sua tese de doutorado Guerriers de l'écriture et commerçants du monde enchanté: histoire, identité e traitement du mal chez les Sateré-Mawé (Amazonie Centrale, Brésil). A primeira narrativa foi traduzida por Silvia de Oliveira e a terceira por Brito de Souza.
O Imperador dos Sateré-Mawé, por Alba Lucy Giraldo Figueroa
Relatos antigos [sehay poot´i] colhidos em diversas localidades da Área Indígena Andirá-Marau referem-se à epopéia de um deus mítico que os Sateré-Mawé reconhecem como seu ancestral. Numa dessas versões, o nome atribuído ao demiurgo pelos narradores é o de Imperador. O termo Imperador foi utilizado no contexto da língua sateré-mawé, sendo Imperador a única palavra em português do relato original, que tanto para o narrador quanto para os demais ouvintes, todos homens adultos, era considerada uma palavra de sua própria língua. Acrescentaram que o seu nome completo era "Imperador Dom Pedro". Em outros contextos, ocorre a utilização do apelativo morekuat, nome genérico para "chefe", hoje reservado principalmente aos funcionários públicos.
 O relato, em suas diversas versões, é fundamental para a compreensão de como se configuram diversos temas entre os Sateré-Mawé, tais como o da identidade étnica, o lugar e o papel atribuído à categoria social dos brancos (karaiwa) na suas representações sobre o mundo e naquelas referentes às relações de poder com as instituições do Estado brasileiro. Fundamentam, por outro lado, o sentimento religioso embutido no senso de territorialidade e na prática política dos Sateré-Mawé. Um ponto comum a todas as versões do relato é o consentimento explicitado pelo Imperador diante da opção da parte dos índios de ficarem nas suas terras.
 Os brancos são associados a dois tipos de sapos esbranquiçados: um chamado kaingkaing [não identificado] e outro manka'i [Hyla venulosa - cunauaru]. Também são feitas outras associações: uma com o macaco wahue: "caiarara" [Cebus albitrons unicolor], por ser ele "todo branco e sem-vergonha". A outra é com o tiapu ou tiapii [Cacicus cela], "japiin", [pássaro da família dos Icterideos, Psarocolius]. Neste último caso, o traço destacado é aparentemente, o hábito de habitação coletiva e numerosa, bem como a grande versatilidade canora demonstrada por esse pássaro. Alguns narradores apontam para justificar essa associação a característica multi-instrumental da música ocidental.
 Os brancos são, assim, representados como descendentes daqueles que seguiram o Imperador e os Sateré-Mawé como descendentes dos que ficaram. A palavra toran, pronunciada com ênfase pelos narradores depois de uma pausa final, cada vez que narram um mito, demarca uma seqüência temporal durante a qual espera-se que a atitude dos presentes seja de reverente silêncio diante das sehay pot'i: palavras antigas, tidas pelos homens idosos como palavras de bem e de beleza.
 O irmão de Eva
Por Vidal - Rio Manjuru (AM), 1996

Antigamente a gente não morria, porque todos nós, índios, morávamos lá, no nusoquen [terreiro de pedra]. Lá foi a primeira terra que nós habitamos. Mas foi depois que existiu a morte, que a irmã dele morreu, quando ele abandonou essa casa primeira, que ele convidou o Adão. Tupana que mandou eles saírem de lá, daquela paragem. "Olha, Adão, chama teu povo para sair daí, daquela paragem”. Ele falou assim: "Adão, chama teu povo para continuar, para ele ir embora, para sair daí. Vai ter muitas frutas pelas matas que vocês vão atravessar. Mas eu não quero que vocês fiquem se entretendo. Eu vou na frente”.

Ele insiste: “Vocês vão ter muita fruta, mas vocês não vão se entreter.” Mas o Adão é teimoso. Quando ele chegou lá, numa fruteira, ele trepou e foi cortar o galho da fruteira. Lá, o povo dele se entreteve, quando eles seguiram, seguiram e seguiram. De noite já, eles encontraram uma sorveira. Estava cheio de fruta, ele derrubou e eles demoraram mais uma vez. Eles já estavam na viagem, mas ficavam se entretendo por aí. Encontraram também uma árvore de caramurizeiro e lá o Adão trepou de novo. E em vez deles seguirem na frente, sem se entreter, não, eles se pararam na fruta até o anoitecer. Lá eles acamparam e, quando foi de dia, seguiram. Encontraram logo uma bacabeira e apanharam muita bacaba. Aí, eles se entretiveram, fizeram um bule de vinho e o beberam todinho. Lá, eles fizeram um barraco, de novo, para dormir.

Quando se lembraram que Deus lhes tinha mandado ir na frente: "Podem ir embora, que tal dia eu vou para lá". Aí nessa lembrança, ele disse: "Eu não disse para vocês irem embora? Para quando eu chegasse, vocês já estarem na beira do rio esperando? Aí, quando eu chegasse, eu ia fazer um barco, uma canoa". O velho veio por onde eles vieram. Por onde eles vieram, Deus passou também. Lá, ele encontrou de novo uma árvore derrubada. "Puxa vida, eles não me ouviram. Bem que eu falei para eles que não se entretiverem nas coisas". Ele andou um pouquinho e lá encontrou, de novo outra árvore derrubada. Lá, ele achou foi barraco. "Aqui, eles ficaram". Ele andou, andou, de novo e lá ele encontrou outra fruteira derrubada. "Puxa vida; o Adão não me ouviu que eu falei para não se entreter com o pessoal dele. Eu disse a ele que, à tarde, eu ia lá com eles. Quando chegasse lá, já ia estar pronto para ir embora”. Ele os encontrou, lá onde tinham se entretido: "Puxa, Adão, você não ouviu o que eu disse para você. Eu falei para você vir embora. Então, eu já vou”. E ele passou na frente e eles ficaram para trás. "Eles ficaram para trás, porque o Adão não ouviu o que eu lhes disse". Durante a sua viagem, ele falou a um passarinho weitapin “Joga no caminho um bocado de serrado para eles não descobrirem mais por onde eu fui”. De repente, o seu rasto ficou coberto e eles não souberam mais por onde segui-lo.

Quando chegou na beira do rio, ele atravessou - ele é poderoso, né? Era um rio bem grande. De repente ele transformou uma pedra numa cachoeira e eles não conseguiram mais passar. Eles chegaram até a beira, lá eles corriam de um lado para o outro e gritavam: "Ei! para onde que vocês foram!? Para onde que vocês foram!? Como que vocês atravessaram!?”. E escutaram o baque; era que estavam fazendo navio para eles irem já, para irem para fora. Porque Deus fez aquele barco para eles irem embora. Mas o Adão, que não ouviu conselho, ele ficou. E ele chamou, chamou. Até que Deus respondeu: "Olha, Adão, eu já não dei conselho para ti? Para tu me seguir com teu povo, mas tu não me ouviste. Tu vais ficar". Ele chamou mais ainda, e Deus respondeu do outro lado: "Olha, Adão: Eu achei melhor que você ficasse mesmo. Porque se nós abandonarmos todos a nossa terra, não iria dar certo. Vocês tem que trabalhar. Vocês tem que voltar. Tu tens que dizer para a tua mulher, para Eva: É melhor que nós vamos embora para nossa casa. Porque ele convidou, mas nós não ouvimos o conselho, então nós temos que voltar, nós temos que trabalhar muito porque nós temos muita plantação [sese motpap ipoityp mikoi]”. Aí, eles cuidaram de ir de novo para lá de onde eles vieram. Se eles tivessem ouvido o conselho de Deus, nós não íamos ficar como nós, na mata. Nós não íamos trabalhar na roça. Mas nós não aproveitamos nadinha.

Aqueles que foram com Deus, estão trabalhando para irem embora. Mas eles não, os que ficaram, se entretiveram na fruta. Ela se lembrou e disse: "Eu tenho um irmão que me deu machado, terçado, ferro de cova, e eu deixei; por isso nós temos que ir embora de novo [voltar]". Disse Eva, convencendo o seu marido.

O passarinho tikwã [Mimus gilvus. Mimidae] estava dizendo, cantando lá em cima do barco deles: "tikwã, tikwã": "Olha, não demora: a chuva já vai arriar". Aí o Imperador, que era o secretário de Deus, o velho, disse: "Mas o que diacho esse passarinho está adivinhando!?". E se pôs a ralhar com ele, achando que estava mais do que abusado da cara. Aí, falou umas coisas para o tikwã. E este respondeu: "Não, esse barco de vocês está para sair, para vocês ir embora". O Imperador falou para ele não cantar mais perto dele. Deus tirou o livro de debaixo do braço. Puxou e aí, o Imperador olhou e disse: Está certo, o que Deus falou está certo. É o dia mesmo. Aí, não demorou e a chuva arriou. Aí criou aquela grande água, lá onde o navio estava. Choveu, choveu, choveu, até que conseguiu sair aquele barco de lá, de cima da terra. Aí eles se embarcaram e foram embora, se escondendo da morte.

Eles foram embora se esconder de muitas doenças. O vento é que transmite a doença: de muito longe vem febre, gripe, tudo quanto é doença. Eles se queriam esconder de tudo isso, mas não teve jeito.
Toran
 O Imperador era índio
Por Alfredo Barbosa - Ponta Alegre, rio Andirá (AM), 1996
 
A primeira pessoa que nasceu foi tapuya, depois foi o karaiwa. Por isso que os tapuya-in ficaram como donos da mata na´apy kaiwat, eles moram na própria terra mesmo. Depois apareceu uma pessoa, o "Imperador" que disse que era para eles não ficarem na mata e sim para irem para yarupap ["lugar onde estão/encostam os barcos"].

O Imperador falou: “Vamos embora para abaixo, para fora". Lá foram eles, foram andando, mas encontraram fruteiras e ficaram entretidos e deixaram de caminhar. O Imperador foi na frente e chegou no barco e esperou lá muito tempo. Mas como o povo não chegava, ele convidou a nação waçaria [“Sapos”, um dos numerosos clãs - ywaniaria - que constituíram o povo Sateré-Mawé] para remar para ele. Na época não existia motor. E se foram para ywysasare [expressão antiga, traduzida como "para fora"]. O Imperador era índio. Ele deu a educação we´eghap [conhecimento, saber]. Ele disse: "Vocês aprenderão fazer muita coisa". Os que foram remando, a nação sapo [waça], ficou na cidade [tawa wato: aldeia grande] e nós ficamos aqui no mato. Eles deram origem aos brancos como vocês, aos japoneses, americanos, são todos magka´i, aquele sapinho branco. Lá ele deu inteligência para fazer avião, rádio, televisão. Ele achou que era bom que tapuya ficasse cuidando de tanta riqueza que tinha nos matos e disse que um dia ele mandava alguém trazer espingarda, machado, terçado, máquina, machado novo, para trocar por produto. São os regatões. Ele disse que um dia ia contribuir com essas coisas que hoje estão nas cidades e que o regatão traz. Morekuaria mit po'oro koi, isto é o que as autoridades mandam.
Toran
 Uruhe'i e Maripyaipok
Por Dona Maria Trindade Lopes - Vida Feliz, rio Andirá (AM),  1996

Existiram dois irmãos que iam descendo quando o Imperador o chamou para descer para fora: Uri era o nome da mulher, mas como quando iam descer ela cochichou ['he´i-´he´i] ao ouvido do irmão que ela tinha esquecido uma coisa: o seu banco, foi chamada de Urihe´i: Uri cochichou: Urihe´i-he´i. O irmão dela chamava Mari, mas como ele voltou, também a causa do apelo da irmã, chamaram ele Mari-aipok: Mari voltou: Mari py aipok: [Mari pé voltou].

Uri era o nome de Eva em língua sateré. Dela surgiram todos os Sateré.
Toran

Cultura material e cosmologia
Os Sateré-Mawé possuem rica cultura material, sendo os teçumes sua maior expressão. Eles designam por teçume o artesanato confeccionado pelos homens com talos e folhas de caranã, arumã e outros, com os quais fazem peneiras, cestos, tipitis, abanos, bolsas, chapéus, paredes, coberturas de casas etc.
Grande ênfase é dada ao Porantim na cosmologia sateré-mawé. O Porantim é uma peça de madeira com aproximadamente 1,50m de altura, com desenhos geométricos gravados em baixo relevo, recobertos com tinta branca, a tabatinga. Sua forma lembra a de uma clava de guerra ou a de um remo trabalhado. O Porantim possui um leque de atributos: é o legislador social e os Sateré-Mawé freqüentemente se referem a ele como sendo sua Constituição ou sua Bíblia. Possui poderes de entidade mágica, uma espécie de bola de cristal que prevê acontecimentos, podendo andar sozinho para apartar desavenças e conflitos internos. É também o suporte onde estão gravados, de um lado, o mito da origem ou a história do guaraná, e de outro, o mito da guerra. Posiciona-se, portanto, para a sociedade que o talhou, como instituição máxima, aglutinando as esferas política, jurídica, mágico-religiosa e mística.
 Divisão sexual e etária do trabalho
O fábrico é um ciclo produtivo predominantemente masculino. Observamos que existe uma relação entre a divisão sexual do trabalho e a divisão do trabalho por faixa etária. A sociedade Sateré-Mawé prescreve para as atividades mais simples do fábrico - que não dependem de tanta arte e experiência - mãos de variadas idades. Mas, ao se tratar das tarefas mais sofisticadas, encontraremos sempre mãos de pessoa adultas ou idosas cuidando do guaraná.
Somando a prescrição sexual com a faixa etária resulta que a colheita dos cachos, a descasca do guaraná cru, a lavagem do guaraná, a torrefação, a descasca do guaraná torrado e a pilação, são tarefas quase que exclusivamente masculinas, cobrindo a faixa etária dos meninos aos adultos. A participação do sexo feminino ocorre apenas quando se descasca o guaraná cru e o guaraná torrado, que são consideradas atividades bem simples dentro do cômputo geral do fábrico.
Só é permitida a participação das meninas nas atividades acima mencionadas antes da primeira menstruação, porque depois do primeiro resguardo as meninas ganham o estatuto social de mulheres, transformando-se em esposas e mães em potencial.
As três atividades finais do fábrico são as que exigem maior depuramento, uma vez que incidem decisivamente na qualidade do produto final - o pão de guaraná. É por este motivo que a modelagem dos pães, sua lavagem e defumação são entregues exclusivamente nas mãos de pessoas adultas ou velhas. Segundo a prescrição da divisão sexual do trabalho e da divisão do trabalho por faixa etária, apenas os homens adultos e velhos podem se encarregar da modelagem dos pães de guaraná e do controle da defumação.
A lavagem dos pães de guaraná se distingue radicalmente das outras atividades do fábrico porque é o único momento onde as mulheres, literalmente, põem a mão na massa. A sociedade sateré-mawé prescreve que somente as mulheres adultas (mães) e velhas (avós) recebem das mãos dos padeiros, após breve descanso nos talos de bananeira, os pães de guaraná ainda frescos, moles e de cor castanha, para serem demorada e caprichosamente lavados.
A lavagem dos pães de guaraná constitui-se, sem dúvida, no trabalho mais delicado do fábrico, o que não é suficiente para explicar a incursão feminina dentro do universo eminentemente masculino.
A quebra de tabu ocasionada pela entrada das mulheres (que já ficaram menstruadas e já tem marido, filhos e netos) no fábrico de forma tão determinada, só pode ser compreendida através dos mitos.
As mulheres Sateré-Mawé estão representadas, em síntese, no corpus mítico sateré-mawé, pelas figuras femininas de Uniaí, Onhiámuáçabê e Unhanmangarú, que são ora irmãs de Anumaré (Deus), ora irmãs de Ocumaató e Icuaman (os irmãos gêmeos). Essas mulheres míticas possuem um leque de atributos e prerrogativas, que encontram ressonância na vida social Sateré-Mawé, mesmo que de forma invertida ou oposta.
É seguindo essa trilha que podemos entender a participação das mulheres no fábrico, precisamente na lavagem dos pães de guaraná, uma vez que elas ocupam a posição de Onhiámuáçabê na "História do Guaraná'' - a mulher-xamã, esposa e mãe. Onhiámuáçabê, através de práticas xamanísticas, cuja tônica central é a lavagem do cadáver do filho com sua saliva e o sumo de plantas mágicas, faz nascer a primeira planta de guaraná, inaugurando a agricultura, ressuscitando seu filho - o primeiro Sateré-Mawé -, e fundando a sociedade.
É interessante notar que na sociedade sateré-mawé cabe exclusivamente aos homens a função de pajés, ao contrário de alguns mitos, em que esses papéis são reservados às mulheres. Da mesma forma, a vida social reserva aos homens a tarefa de beneficiar o guaraná, quando nos mitos é função da mulher de cuidar do guaraná. Provavelmente, são essas inversões que permitem a quebra de tabu na divisão sexual de trabalho no fábrico, resguardando para as mulheres a continuidade das suas funções míticas na vida social.

Organização política
Toda aldeia possui um tuxaua, o chefe do lugar, pessoa que está investida de autoridade para resolver brigas e conflitos internos, convocar reuniões, marcar festas e rituais, orientar as atividades agrícolas e as transações comerciais, mandar construir casas etc. Cabe ainda ao tuxaua hospedar os visitantes demonstrando sua generosidade e procedendo à função cerimonial de oferecer çapó - guaraná em bastão ralado na água, bebida cotidiana, ritual e religiosa, que é consumida em grandes quantidades.
Ao tuxaua, como a qualquer chefe de família extensa, compete também administrar os interesses de sua própria família, responsabilidade que ele assume de modo incisivo, principalmente quando se trata de solucionar brigas e determinar as atividades agrícolas e comerciais. Ele também administra os interesses das demais famílias extensas e elementares que aí residem, mas nesse caso, o faz de forma mais flexível.
Nesse sentido, é possível dizer que a unidade mínima constitutiva da aldeia é sempre a família extensa do tuxaua. A aldeia pode constituir-se também dessa família acrescida por famílias elementares, ou ainda por um conjunto de famílias extensas, cujos chefes de família se submetem à influência política do tuxaua local.
A autoridade política do tuxaua transcende os limites da aldeia, estendendo-se, conforme seu desempenho como chefe de aldeia e de acordo com suas relações com os demais tuxauas sateré-mawé e, sobretudo, com o tuxaua geral.
Podemos observar que, contemporaneamente, o grau de influência política de um tuxaua oscila segundo inúmeros critérios, dos quais se destacam: o clã ao qual pertence, suas relações de parentesco e prestígio junto aos demais tuxauas, seu conhecimento sobre o tempo dos antigos (história e mitologia sateré-mawé), sua capacidade como orador, seu grau de generosidade, sua tradição como agricultor e beneficiador do guaraná, sua habilidade para o comércio, a maneira como conduz os problemas internos de sua comunidade e a tônica de suas relações com os agentes da sociedade envolvente, principalmente a Funai, os patrões e os políticos locais. Pode-se dizer que o tuxaua geral é aquele que consegue um bom desempenho em todas essas áreas.
Além dos chefes de família extensa, dos tuxauas e dos tuxauas gerais, ainda há lugar na organização política sateré-mawé para a figura do capitão, instituída pelo SPI e reforçada pela Funai. Ao capitão cabe a função de intermediar as relações dos Sateré-Mawé com os brancos, mais especificamente fazer a ponte entre as chefias tradicionais dessa sociedade com as autoridades da sociedade nacional.
O capitão contracena principalmente com autoridades exógenas: o chefe de Posto, o delegado, o superintendente e o presidente da Funai, prefeitos, padres e pastores. Muitas vezes são esses agentes do Estado e das congregações religiosas atuantes na área que instituem o capitão, e prosseguem manobrando-o em função dos seus interesses. Essa realidade, somada ao fato dele não ser um chefe tradicional, transforma-o numa figura controvertida dentro da esfera política sateré-mawé
 Os filhos do Guaraná
Subsistência
Inventores da cultura do Guaraná, os Sateré-Mawé transformaram a Paullinia Cupana, uma trepadeira silvestre da família das Sapindáceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento. O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional Sateré-Mawé.
Os Sateré-Mawé se vêem como inventores da cultura dessa planta, auto-imagem justificada no plano ideológico por meio do mito da origem, segundo o qual seriam os Filhos do Guaraná.
O guaraná é o produto por excelência da economia sateré-mawé, sendo, dos seus produtos comerciais, o que obtém maior preço no mercado. É possível ainda pensar que a vocação para o comércio demonstrada pelos Sateré-Mawé se explique pela importância do guaraná na sua organização social e econômica.
A primeira descrição do guaraná e sua importância para os Sateré-Mawé data de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos. O padre João Felipe Betendorf descrevia, em 1669, que "tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras".
Em 1819, o naturalista Carl von Martius recolheu na região de Maués uma amostra de guaraná, denominado-a Paullinia Sorbilis. Martius observou que na época já existia intenso comércio de guaraná, enviado a locais distantes como o Mato Grosso e a Bolívia. Assim, em 1868, Ferreira Pena escreve: ''Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato-Grosso dirigindo-se à Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de exportação e donde recebem os de importação. Daí antes de regressarem vão a Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás, carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas povoações do Guaporé e seus afluentes''.
O comércio do guaraná sempre foi intenso na região de Maués, não só o realizado pelos Sateré-Mawé, mas também pelos civilizados. A procura deste produto deve-se às propriedades de estimulante, regulador intestinal, antiblenorrágico, tônico cardiovascular e afrodisíaco. No entanto, é como estimulante que o guaraná, depois de beneficiado, é mais procurando, pois contém alto teor de cafeína (de 4 a 5%), superior ao chá (2%) e ao café (1%).
Existe uma distinção entre o guaraná de excelente qualidade beneficiado pelos Sateré-Mawé - chamado guaraná das terras, guaraná das terras altas e guaraná do Marau - e o guaraná beneficiado pelos civilizados na região de Maués, chamado guaraná de Luzéia - antigo nome desta cidade -, de qualidade inferior porque produzido sem os conhecimentos e apuro das práticas tradicionais dos índios. O guaraná das terras sempre foi o mais procurado e, no entanto, os Sateré-Mawé vendem, no máximo, duas toneladas do produto por ano, e apenas nos anos de excelente safra. Já o guaraná de Luzéia, muito inferior, é produzido em larga escala; só uma empresa de comercialização do produto em Maués afirma vender 40 toneladas anuais
 Território e história do contato com os brancos
Segundo relatos dos velhos Sateré-Mawé, seus ancestrais habitavam em tempos imemoriais o vasto território entre os rios Madeira e Tapajós, delimitado ao norte pelas ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas e, ao sul, pelas cabeceiras do Tapajós.
Os Sateré-Mawé referem-se ao seu lugar de origem como sendo o Noçoquém, lugar da morada de seus heróis míticos. Eles localizam-no na margem esquerda do Tapajós, numa região de floresta densa e pedregosa, ''lá onde as pedras falam''.
Nunes Pereira, que viveu com esse povo na década de 1950, conta que ''os lagos e rios piscosíssimos que irrigam as terras em que viveram outrora os Maués e, bem assim, as florestas e campinaranas ricas em caças de toda espécie, deveriam constituir, numa época mais remota, uma paisagem magnífica para as atividades desse povo. À representação panteísta do Noçoquem, - sítio onde se encontravam todas as plantas e animais úteis aos Maués, segundo a Lenda do Guaraná, deveriam corresponder, outrora, o território por eles ocupado''.
Os Sateré-Mawé tiveram seu primeiro contato com os brancos na época de atuação da Companhia de Jesus, quando os jesuítas fundaram a Missão de Tupinambaranas, em 1669. Segundo Bettendorf, "Em 1698 os Andirá acolheram o Padre João Valladão como missionário. É impossível localizar os Maraguá precisamente, mas eles viviam num lago, entre os rio Andirá e Abacaxi, provavelmente no baixo Maués-Açu, que se espraia para formar uma espécie de lago. Eles tinham três vilas, uma próxima da outra" (1910:36). Em 1692, após terem matado alguns homens brancos, o governo declarou uma guerra justa (legal) contra eles, parcialmente evitada pelos índios, uma vez que estes foram avisados e se espalharam, sendo que somente alguns ofereceram resistência.
A partir do contato com os brancos, e mesmo antes disso, devido às guerras com os Munduruku e Parintintim, o território ancestral dos Sateré-Mawé foi sensivelmente reduzido. Em 1835 eclodiu a Cabanagem na Amazônia, principal insurreição nativista do Brasil. Os Munduruku e Mawé (dos rios Tapajós e Madeira) e os Mura (do rio Madeira), bem como grupos indígenas do rio Negro, aderiram aos cabanos e só se renderam em 1839. Epidemias e atroz perseguição aos grupos indígenas que com eles combatiam, devastaram enormes áreas da Amazônia, deslocando esses grupos dos seus territórios tradicionais ou reduzindo-os.
Relatos dos viajantes confirmam que de fato houve redução territorial a partir do século XVIII, e mencionam a área compreendida pelo rio Marmelos, Sucunduri, Abacaxis, Parauari, Amana e Mariacuã como território tradicional dos Sateré-Mawé. Esses relatos confirmam também que as cidades de Maués (AM), Parintins (AM) e Itaituba (PA) foram fundadas sobre sítios Sateré-Mawé, coincidindo com passagens da história oral deste povo.
Pensando em termos de macro-território, a ocupação da Amazônia pelos civilizados - termo usado pelos Sateré-Mawé para designar todos aqueles que não são Sateré-Mawé: caboclos, brancos, estrangeiros, com exceção das outras nações indígenas - restringiu consideravelmente seu território tradicional. Primeiro, foram as tropas de resgate e as missões jesuíta e carmelita; depois iniciou-se a busca desenfreada das drogas de sertão; em seguida a extração da seringa; e finalmente a expansão econômica das cidades de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba para o interior dos municípios, alocando fazendas, extraindo pau-rosa, abrindo garimpos, dominando a economia indígena através de seus regatões.
Em 1978, quando iniciado o processo de demarcação do território, as aldeias, sítios, roças, cemitérios, territórios de caça, pesca, coleta e perambulação situavam-se entre e ao redor dos rio Marau, Miriti, Urupadi, Manjuru e Andirá. Os Sateré-Mawé consideravam essa extensão de terra como sendo sua, apesar de saberem que ela representava apenas uma pequena parcela do que já havia sido seu território tradicional. Do ponto de vista dos Sateré-Mawé, conseguiu-se manter parte privilegiada do território.
Eles são tradicionalmente índios da floresta, do centro, como eles próprios falam. Até o começo do século XX escolhiam lugares preferencialmente nas regiões centrais da mata, próximas às nascentes dos rio, para implantarem suas aldeias e sítios. Nessas regiões, a caça é abundante; encontram-se em profusão os filhos de guaraná (como chamam, em português, as mudas nativas da Paullinia Sorbilis); existe grande quantidade de palmeiras como o açaí, tucumã, pupunha e bacaba, que sazonalmente comparecem na dieta alimentar; os rios são igarapés estreitos, com corredeiras e água bem fria. Esse é o ecossistema por excelência dos Sateré-Mawé e podemos observar, ainda hoje, que as aldeias que guardam formas de vida tradicionais ''como no tempo dos velhos'' (plano espacial, arquitetura, roças, rituais etc.) situam-se nessas regiões.
As características desses nichos ecológicos eram essenciais à reprodução da vida tradicional dos Sateré-Mawé até o começo do século XX. Conforme os relatos dos índios mais velhos, as antigas aldeias Araticum Velho e Terra Preta, ambas situadas na cabeceira do rio Andirá, foram o pólo de dispersão das atuais 42 aldeias encontradas nas margens desse rio. Da mesma forma, a aldeia Marau Velho, que se localizava na nascente do rio Marau, foi o núcleo inicial das atuais 31 aldeias situadas no mesmo rio, bem como das aldeias que encontramos nos rios Miriti, Manjuru e Urupadi. Estas três aldeias desapareceram em torno da década de 20, mas ainda podemos observar seus sinais na capoeira, resquícios de suas implantações nas cabeceiras dos rios.
A proliferação de aldeias situadas nas margens dos rios Marau e Andirá vem ocorrendo há aproximadamente 80 anos e se deve às interferências na vida tradicional dos Sateré-Mawé, ocasionadas pelas missões religiosas, pelo extinto SPI pela atual Funai, como também pela pressão dos regatões e pelas epidemias. Todos esses fatores levaram os Sateré-Mawé a terem vontade de ficar mais próximos das cidades de Maués, Barreirinha e Parintins.

A subsistência baseia-se na agricultura, em que se destacam os plantios de guaraná e as roças de mandioca. A farinha é a base da alimentação, sendo também comercializada em larga escala para as cidades vizinhas de Maués, Barreirinha e Parintins. Plantam ainda, para consumo próprio, o jerimum, a batata doce, o cará branco e roxo, e uma infinidade de frutas, em maior escala a laranja.

Além de exímios agricultores, são também caçadores e coletores. Mel, castanha, diferentes qualidades de coquinhos, formigas e lagartas complementam sua dieta. Coletam ainda breu, cipós e vários tipos de palhas que servem para o consumo, além se serem comercializados na cidade. Caçando e pescando, os homens participam da dieta alimentar, juntamente com a farinha de mandioca, beiju e tacacá feitos pelas mulheres.